Prematuros têm calendário vacinal especial

23 de setembro de 2011

Diante do aumento no índice de nascimentos prematuros no País nos últimos anos, a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) criou um calendário de vacinação especial para esses bebês. Isso porque a imunização de crianças nascidas antes das 37 semanas de gestação tem peculiaridades que são pouco conhecidas pelas famílias e até mesmo pelos serviços de saúde em geral.

A iniciativa faz parte da campanha Prematuro imunizado é prematuro protegido. Entre as orientações específicas para esses bebês está a aplicação de um tipo especial de vacina tríplice bacteriana, que protege contra coqueluche, tétano e difteria: crianças nascidas antes do tempo devem receber a categoria acelular dessa imunização, geralmente aplicada em adultos.

“Prematuros costumam estar em atraso constante na vacinação”, diz Renato Kfouri, presidente da SBIm. Ele conta que muitos pais acreditam que esses bebês, por serem pequenos, deveriam receber as doses mais tarde, com mais peso. Mas essas crianças, na verdade, estão mais expostas a todos os tipos de doenças, pois nascem sem os anticorpos passados pela mãe nas últimas semanas de gestação.

Outra diferença entre a caderneta dos prematuros e o calendário regular é a administração do anticorpo monoclonal palivizumabe, contra o vírus sincicial respiratório (VCR). Nos prematuros, o risco de complicações por causa desse agente é 10 vezes maior em relação aos outros bebês. A substância, oferecida pelo Sistema Único de Saúde de São Paulo como droga de alto custo, promove a imunização por meio do anticorpo já pronto.

Prematuros ainda precisam receber uma dose adicional da vacina contra hepatite B e a aplicação da BCG deve obedecer regras específicas (veja ao lado). Segundo Kfouri, a campanha vem num momento em que o Brasil enfrenta expressivo aumento de nascimentos prematuros. Ele diz que, atualmente, cerca de 10% dos partos são prematuros – índice que, em 1997, era de 5,3%, segundo o Ministério da Saúde.

A neonatologista Graziela Lopes del Bem, do Hospital e Maternidade São Luiz, também destaca taxas de prematuridade em alta: por lá, o índice passou de 9% para 12% em 10 anos. Os motivos vão desde o avanço da tecnologia, propiciando o nascimento de bebês que antes não sobreviveriam, até o aumento de doenças crônicas nas mães, que passaram a engravidar mais tarde.

“Bebês de 1 kg, que no passado morriam logo após o nascimento, hoje sobrevivem, mas demandam atenção diferenciada no campo nutricional, neurológico e nas imunizações”, diz Kfouri. “Com o avanço da fertilização, há ainda um número maior de gêmeos, que têm mais risco de nascer antes do tempo”, completa Graziela.

A empresária Camila Chrystiane Infantini Carneiro, de 31 anos, é um exemplo do quanto os avanços da medicina beneficiaram os prematuros. Ela já havia perdido dois bebês quando deu à luz Rodolfo, que nasceu no sexto mês de gestação. Após três meses na UTI, com várias paradas respiratórias, um acidente vascular cerebral e hipertensão pulmonar, o menino foi para casa.

Com orientações precisas de um médico especializado em gestações de alto risco, o bebê recebeu todas as imunizações específicas para um prematuro. E, hoje, aos seis anos, tem vida normal, sem nenhuma sequela grave.

Ingresso na escola influi na vacinação

Um levantamento feito pela empresa de pesquisas Target avaliou o conhecimento de 320 mães de cinco capitais brasileiras sobre a imunização das crianças. Para 89% das paulistanas, o ingresso das crianças na escola ou na creche influenciou na decisão de vaciná-las com a imunização antipneumocócica. Isso porque, para 78% das entrevistadas, os filhos ficam mais expostos às doenças nessa fase.

“A internet é uma ferramenta importante da mãe moderna. Mas a relação de confiança com o pediatra é muito bem estabelecida”, diz o pediatra Renato Kfouri. A maioria das mães paulistanas, ou 76%, declarou saber que as vacinas podem prevenir doenças graves. Mas apenas 12% delas souberam explicar como a vacina é produzida.

Para os médicos, hoje há um grande reconhecimento por parte da população sobre a importância das vacinas. A pediatra Naomy Wagner, da Maternidade Santa Joana, conta que antigamente era preciso convencer os pais a vacinar os filhos. “Melhorou muito. As pessoas já estão aceitando melhor e procurando espontaneamente.”

CALENDÁRIO ESPECIAL

BCG ID: deve ser aplicada  na maternidade, mas somente  em bebês com mais de 2 kg

Hepatite B: nos bebês com menos de 33 semanas de gestação ou com menos de 2 kg, são necessárias 4 doses, em vez das 3 doses habituais

Palivizumabe: o anticorpo monoclonal contra o VSR deve ser aplicado em prematuros de 29 a 32 semanas de gestação no período de circulação do vírus: março a setembro

Pneumocócica conjugada: esquema igual à vacinação regular. Quatro doses aos 2, 4 e 6 meses

Poliomielite: o uso oral está contraindicado enquanto o recém-nascido estiver hospitalizado. Recomenda-se a vacina injetável

Rotavírus: não deve ser tomada em ambiente hospitalar

Tríplice bacteriana: é indicada a vacina acelular (geralmente aplicada em adultos), que reduz o risco de reações

Hemófilos tipo B: é recomendada em combinação com a trílplice bacteriana

Saiba mais no site da SBIm: www.sbim.org.br/sbim_calendarios_2011_prematuro.PDF

PREMATURIDADE

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Fonte: Jornal da Tarde

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