Pesquisadores americanos abrem caminho para vacina universal contra a gripe

13 de janeiro de 2011

Será que em breve poderemos dispensar vacinas sazonais da gripe que precisam ser modificadas por levar em conta mutações do vírus? De qualquer forma, pesquisadores americanos acabam de dar um grande passo na direção de uma futura vacina universal, ao identificarem entre pessoas infectadas pelo vírus pandêmico A (H1N1) anticorpos que também reagem contra outras estirpes do vírus da gripe, inclusive o H5N1. Os resultados de seus trabalhos foram publicados no dia 10 de janeiro na revista “The Journal of Experimental Medicine”.

O vírus da gripe A (H1N1), responsável pela pandemia de 2009-2010, apresenta particularidades. Essa estirpe, que teria infectado 60 milhões de pessoas, segundo estimativas dos Centros de Controle de Doenças americanos, afetou pessoas mais jovens do que os vírus sazonais.

A equipe americana de Rafi Ahmed (Universidade Emory de Atlanta) e Patrick Wilson (Universidade de Chicago) destaca a importância da particularidade desse vírus, desconhecido até sua emergência em 2009. Para esses pesquisadores, isso torna ainda mais necessária a compreensão das respostas imunitárias do organismo e das especificidades dos anticorpos produzidos contra essa nova estirpe. Durante uma infecção, o organismo reage por intermédio de certos glóbulos brancos, os linfócitos B. Células derivadas desses linfócitos secretarão anticorpos, sendo que alguns deles sabem reconhecer especificamente uma parte do vírus.

Memória imunitária

Patrick Wilson e seus colegas constataram que diferentes anticorpos produzidos por pessoas infectadas pelo vírus pandêmico A (H1N1) também reagiam contra todas as estirpes sazonais recentes que também pertencem à família A (H1N1), mas também contra a da pandemia de gripe espanhola de 1918, bem como às estirpes do vírus aviário H5N1.

Assim, ao contrário da resposta induzida pelas estirpes de vírus sazonal, os anticorpos produzidos pela estirpe de 2009 possuem um espectro muito mais amplo. Patrick Wilson oferece uma explicação: “A estirpe pandêmica só tem em comum com as estirpes sazonais as partes indispensáveis ao funcionamento do vírus. Nossa memória imunitária das exposições passadas aos vírus sazonais se apoia sobre anticorpos que visam essas regiões essenciais”.

Indo mais longe, a equipe americana injetou em ratos diferentes vírus gripais, e mostrou que os animais sobreviviam quando a eles eram administrados os anticorpos específicos do vírus pandêmico de 2009.

Esses trabalhos se somam aos da equipe reunida em torno de Jianhua Sui (Harvard Medical School, Boston), que havia identificado um anticorpo capaz de neutralizar, nos ratos, os vírus da família dos H1N1 conhecidos antes da pandemia de 2009 e do H5N1 aviário. A equipe de Ian Wilson no Scripps Institute (La Jolla, Califórnia) havia feito o mesmo simultaneamente.

“A natureza está nos dando um indício sobre a maneira de visar muitas estirpes virais para obter uma vacina global contra a gripe, o que poderia abrir caminho para uma possível erradicação da doença”, comemora Patrick Wilson. Muitos pesquisadores e empresas sonham com isso. “Torna-se cada vez mais evidente que uma vacina como essa poderia funcionar entre os homens. Serão necessários ainda de cinco a dez anos de pesquisas para que sejam estabelecidas”, diz o pesquisador. Continuam sendo muitos os obstáculos.
Fonte: Le Monde

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