Pesquisa sugere que o consumo de certos alimentos antioxidantes pode ajudar você a dormir mais horas

8 de novembro de 2016
oto

Receita para dormir mais e melhor todo mundo tem. Mas, agora, dá para montar um cardápio anti-insônia baseado numa grande pesquisa que relacionou comida com horas de sono. O estudo, publicado em uma edição da revista científica “Appetite“, foi feito por uma equipe do departamento de medicina do sono da Universidade da Pensilvânia e envolveu 5.587 pessoas. Os pesquisadores cruzaram os dados sobre alimentos consumidos e horas dormidas dos participantes, que tinham entre 18 ae 60 anos. As informações usadas são do levantamento nacional de saúde e nutrição dos Centros para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos.

A parte mais original do trabalho foi quantificar, além de calorias e grandes grupos de alimentos (proteínas, gorduras, carboidratos), substâncias que, embora fundamentais, são necessárias em pequenas porções e, por isso, chamadas de micronutrientes: vitaminas e minerais.

Aí surgiram ingredientes surpreendentes tanto para os estudiosos do sono quanto para os da área de nutrição.

TOMATE E CHOCOLATE
Segundo a pesquisa, as substâncias ingeridas em maior quantidade pelas pessoas que dormem de sete a oito horas em relação aos que dormem seis ou menos horas por dia são os antioxidantes -desde sempre associados à prevenção de doenças, mas nunca antes considerados facilitadores do sono.

Os destaques foram o licopeno (que dá a cor ao tomate); a luteína (pigmento responsável pelo tom amarelo-alaranjado de alimentos como gema de ovo e milho); o mineral selênio; a vitamina C e a teobromina, um componente químico do cacau.

“Essas substâncias nunca tinham aparecido em pesquisas. A relação entre dieta saudável e o sono é pouco explorada”, disse à Folha o psicólogo Michael Grandner, principal autor do estudo da Universidade da Penislvânia.

Da mesa para a cama
Pessoas que consomem licopeno, selênio, luteína, teobromina e vitamina C em maior quantidade do que outras dormem melhor que essas últimas, concluiu uma nova pesquisa sobre dieta e sono, da Universidade da Pensilvânia. Mas os pesquisadores não sabem o que é causa ou efeito.

“Sabemos que esses micronutrientes têm impacto positivo na saúde em geral. Precisamos de mais pesquisas para comprovar o efeito no tratamento clínico de distúrbios do sono”, segundo Michael Grandner, coordenador da pesquisa.

O estudo dá pistas, observa o psiquiatra e especialista em medicina do sono Maurício Viotti Daker, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Falta comprovar se a falta dessas substâncias faz a pessoa dormir menos.

Para o psiquiatra Alberto Remessar, que dirige uma clínica de distúrbios do sono em São José dos Campos, é preciso descobrir quais nutrientes têm influência real. “Não sei o quanto dos efeitos observados são apenas resultado de um padrão de vida saudável”, diz.

GORDURA E AÇÚCAR
Pesquisas anteriores já mostraram que quem dorme pouco tende a comer mais coisas gordurosas, açucaradas e calóricas. “A privação de sono ativa circuitos cerebrais que fazem a pessoa procurar esse tipo de alimento”, diz a neurologista Dalva Poyares, do Instituto do Sono de São Paulo, ligado à Unifesp.

Os centros de sono no cérebro, que ficam na região do hipotálamo, estão próximos dos centros ligados ao apetite, explica a neurologista.

“A teobromina aumenta a produção de serotonina e dopamina, neurotransmissores ligados ao prazer e ao bem-estar”, diz a nutricionista Daniela Jobst, do Centro de Brasileiro de Nutrição Funcional.

Esses neurotransmissores agem na produção de melatonina, o hormônio do sono, segundo a explicação da nutricionista e bioquíma Lucyanna Kalluf, de São Paulo.

“Dietas muito restritivas afetam o humor o dia todo e atrapalham quem quer dormir bem à noite”, diz Kalluf.

AJUDA OU ATRAPALHA?

Mitos e verdades sobre a interferência de alimentos no sono
LEITE COM MEL AJUDA?
Tomar algo quente é reconfortante e uma pequena quantidade de carboidrato aumenta a sensação de bem-estar. Leite e mel têm triptofano, que ajuda a produzir melatonina (hormônio do sono), mas não há provas de que a quantidade da substância nesses alimentos seja suficiente para induzir o sono

CAFÉ ATRAPALHA?
Cafeína é estimulante, mas a sensibilidade à substância varia. Algumas pessoas sentem menos os seus efeitos. Além disso, quem toma muito café desenvolve tolerância à cafeína e precisa de quantidades maiores para ser estimulado. Em pessoas com grande tolerância à bebida, a pressão do sono se sobrepõe ao estímulo para ficar acordado

AÇÚCAR ATRAPALHA?
O mais importante é evitar essa fonte de energia rápida próximo à hora de ir para a cama. Além de a pessoa não ter como gastar tanta energia, há o risco do efeito rebote: o doce aumenta rapidamente o nível de açúcar no sangue causando, em seguida, uma queda abrupta. Esse descontrole da glicemia afeta o equilíbrio metabólico e hormonal

SUCO DE MARACUJÁ AJUDA?
A planta tem efeitos calmantes, por isso é usada para ajudar a dormir. O problema é que não dá para garantir a quantidade eficiente de princípios ativos em sucos ou chás. Para ter efeito, essa substância calmante precisa ser isolada e consumida em grandes concentrações

CHÁ DE CAMOMILA AJUDA?
Algumas ervas como a camomila têm princípios ativos com efeitos sedativos ou calmantes. Mas é improvável que uma infusão caseira tenha as quantidades necessárias da substância para garantir essa ação. No entanto, um chazinho antes de dormir oferece sensação de conforto -se não existe ação química, pelo menos dá uma ajuda psicológica.
Fonte: Folha de S. Paulo

 

Escreva um comentário